Estória: narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção.

História: narração ordenada, escrita dos acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Pedras-Mouras

Na Bouça de Talhos, da freguesia de Jesufrei, do concelho de Vila Nova de Famalicão, existem, desde o tempo dos Mouros, umas pedras feitas a picão, com riscos fundos, de forma de cruzes, abertos nas pedras.

Quem nelas se assentar, fica encantado, e se levar alguma para casa morrem-lhe todos os animais que tiver.


Há muitos anos já que o Joaquim da Bouça, d’Arnosa, levou uma das pedras-mouras para casa e, pouco tempo depois, morreram-lhe os bois, porcos e galinhas.


Só passou este andaço depois que tornou a levar a pedra moura ao lugar donde a tinha tirado.



É assim, consoante agora a contamos, que temos ouvido ao povo esta lenda.


Ainda há dias, um mancebo de Jesufrei nos afirmei que, quando era rapazinho, e andava a pastorear o gado, os amos lhe recomendavam sempre se não assentasse nas pedras-mouras, pois era tal o medo que tinha, que nem perto delas passava.


Aguilhoado pela curiosidade de ver as pedras mouriscas, que deram origem a esta lenda, fomos procura-la à Bouça de Talhos.


Efectivamente lá encontramos entre o mato, em diversos lugares, num pequeno montado e pinheiral, vedado por parede, três pedras feitas a pico e que denotam grande antiguidade, tão apagados e gastos estão as gravuras duma.


Na face mais polida duma vê-se uma circunferência, que mede de diâmetro 0,38m, com uma cruz do mesmo tamanho, à guisa da dos cavaleiros da ordem de malta. Esta tem de comprimento 0,80m; de largura 0,44 e de grossura 0,30m. Dum lado, em linha regularmente distanciadas, têm oito covinhas em apenas lhe cabe a cabeça do dedo mínimo.


Outra é das mesmas dimensões e com igual desenho no lado aposto, em cima e nas bandas.


Foi partida em três partes, provavelmente por algum supersticioso dos que crêem, como é vulgar no povo, que nas pedras-mouras estão encantadas riquezas.


Outra pedra mede 1,36m de comprimento, 0,45m de largura e 0,30m de espessura e a circunferência com a cruz é de 0,38m de diâmetro, mas só dum lado, que está feito a pico.


Ainda outra igual a esta está no Campo da povoação, encostada à parede do Campo da carreira.


Transcrito de: Brandão, Abílio, 1911. Lendas de Mouras Encantadas in Revista Lusitana, volume 14, Livraria Clássica Editora, Lisboa.

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